Leituras psicanalíticas, especulações teológicas, análises económico-financeiras, pareceres jurídicos, um sem-número de adaptações cinematográficas, musicais, literárias… São muitos e bem diversos os caminhos (e obscuros atalhos) abertos pelo ímpeto de O Mercador de Veneza, a mais irónica, negra e equívoca das “comédias” de Shakespeare. Atraído pela ambivalência que infecta toda a intriga, Ricardo Pais encena a consanguinidade de dois inimigos de morte: o judeu Shylock, cuja eloquência e espírito – penetrantes como uma faca – terão surpreendido o próprio Shakespeare no desenvolvimento da sua arte dramática, e o cristão António, mercador em desesperada fuga para a frente, aqui arrancado à redutora condição de beato ou vítima. Orquestrada por encenador e tradutor, a dramaturgia exalta a diferença entre uma Veneza mercantil e uma Belmonte supostamente paradisíaca, propondo um thriller intenso na primeira parte, e uma intrigante (por vezes, terrível) fantasia cénica, na segunda.
Das edições do TNSJ, que incluem um vasto leque de DVDs, CDs e livros que reflectem o empenho desta Casa em disponibilizar o registo de algumas das suas produções, às inovadoras peças de merchandising – construídas com o que em tempos foram materiais de divulgação –, a Loja do Teatro oferece uma diversidade de suportes que são, em grande parte, o prolongar das memórias dos espectáculos apresentados.