Exactamente Antunes é um espectáculo de risco, que recusa toda e qualquer ideia de eficácia e que depende verdadeiramente de quem o vem habitar. Ao espectador pede-se apenas que se deixe absorver por este tempo circular – que o som do mar convoca no início e no final do espectáculo – e que caracteriza as necessárias e sempre cíclicas iniciações por que passa o mais banal dos homens ao longo de toda uma vida. Como afirma Jean-Pierre Sarrazac, “o jogo onírico tem a capacidade de elevar o drama-da-vida ao nível do drama da espécie humana na sua totalidade”. E talvez seja exactamente isto que nos sugerem Jacinto Lucas Pires, Cristina Carvalhal e Nuno Carinhas com este texto e com este espectáculo: “Sentado à mesa, nu, Antunes – com toda a calma do mundo, durante um minuto completo – descasca a banana e come a banana”. Resta-me concluir com as sábias palavras de Judite – que talvez não se chame assim: “Melhor representado do que isto, meus senhores, nem no teatro!”
Alexandra Moreira da Silva
Das edições do TNSJ, que incluem um vasto leque de DVDs, CDs e livros que reflectem o empenho desta Casa em disponibilizar o registo de algumas das suas produções, às inovadoras peças de merchandising – construídas com o que em tempos foram materiais de divulgação –, a Loja do Teatro oferece uma diversidade de suportes que são, em grande parte, o prolongar das memórias dos espectáculos apresentados.